Não demora muito e a nossa futura ganhadora do Nobel de Literatura já nos premia com uma rápida, acalourada e - por que não? - divertida réplica sobre o primeiro post deste blog. Pausa na apresentação das outras G's para o célebre comentário de B.M, nossa amiga de sensibilidade e intuição afloradas.
É, ela realmente tem e merece esse poder. Vocês irão perceber que é preciso mais de uma postagem para decifrar alguma parte da alma dessa pisciana mutante. Ela sai do '?' para o '!' em pouquíssimo tempo, e, em menos tempo ainda, ela retorna para o '?': uma moça indecifrável!
"Foi estranho ler esse email. Nas primeiras linhas, confesso que nem reconheci minha propria 'voz'. Mas depois eu ri da minha própria ingenuidade. Sim, eu tinha acabado de chegar e não tinha a menor idéia do quanto a minha vida ia mudar. Mas isso não é assunto pra agora. Preciso explicar porque eu achei tanta graça.
Primeiro: que eu não sei o que estava pensando quando disse que as malas estavam um pouco tortas. Lembro bem que uma delas estava completamente rasgada e quebrada, o suficiente para abrir quando eu tinha saido do aeroporto e me dirigia ao ponto de onibus, pra pegar a van que levou a gente pro hotel. Mas é óbvio, o que eu podia esperar de uma mala que custou 50 reais, no Extra? Os funcionãrios da CBP (alfandega norte-americana) devem ter pensado que eu merecia ter a mala rasgada e quebrada, pra deixar de ser miserável. Marie, agente de alfandega pensa isso,né? (e faço uma pausa aqui pra você que está lendo esse blog e se perguntando se todas nós trabalhamos na Receita porque eu usei a palavra 'agente', pare de ler e vá estudar português!!).
Bom, segundo: hoje o número de au pairs que vem aos EUA é menor. Bem menor. Nada de 61 meninas chegando só do Brasil não. Não fiz nenhuma pesquisa datafolha, mas uso isso de gancho pra dizer que eu ainda moro aqui (sim, há 3 anos e meio, entre chegadas e partidas) e vejo, estação após estação, que o número só diminui. E as únicas pessoas a se perguntarem o porque são aquelas que nunca foram au pairs, nannys ou trabalharam com crianças. Ninguém é louco o suficiente pra repetir um erro, conscientemente. Além de mim, claro.
Brincadeira, pessoas. Tô até vendo, acho que acabamos de perder 7 leitoras futuras au pairs que clicaram lá no botãozinho vermelho do canto direito e foram na agência cancelar o contrato. Se você é futura au pair e ainda está lendo, parabéns, você tem senso de humor e como diz uma amiga minha, também ex-aupair, isso faz de tudo tolerável (e não seria essa a razão da existência desse blog after all?). Fique calma que eu não estaria aqui ainda se achasse que não vale a pena, né? Bom, pode ser que com o passar do tempo, quanto mais você leia isso aqui, mais você tenha sérias dúvidas sobre a minha sanidade mental. Mas isso também é outra história.
Continuando com o terceiro tópico, o café. Ah, essa foi a maior mentira que eu contei pros meus pais, e a maior ingenuidade da minha vida. Sendo curta e grossa - grossa com quem? - e conhecedora de causa, o café de lá assemelha-se ao Rio Tietê: parece uma água suja e com gosto ruim. Não tem cheiro de café e eles não reciclam. Pessoas, como pode uma empresa como a starbucks não reciclar? Pode e nem pergunte que eles são treinados a não responder sobre o assunto, e sim eu já tentei.
E por fim, queridos, comento aqui o momento onde eu afirmei não ter chorado. Pelo que lembre, devo ter chorado assim que terminei de escrever aquele email. Se não, no dia seguinte eu desabei. E desabei tambem nos três meses seguintes. Fiquei muito homesick, termo que usamos pra explicar a saudade, mas que, na verdade, vai além disso. Até hoje ainda tenho meus momentos homesick, principalmente quando estou sick of being home (entediada até a beira da morte pela falta do que fazer). No entanto, nada que me faça chorar mais do que a saudade do meu G6, mas como eu afirmo e selo que elas estão também com saudade de mim e que me amam, eu me curo.
Até logo.
Beijo no coração." (New Jersey, 2010)
